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O final do ano está quase chegando, resta pouco menos de dois meses. Embora a mudança de uma data para outra possa não significar muito mais do que uma contagem numérica cíclica. Contagem que se renova e se esgota, feito uma ampulheta virada, desvirada, revirada.
Mas também não quer dizer que se deve desprezar as filosofias - sejam elas espirituais ou não - envolvidas nos processamentos de sentidos dos anos novos. Afinal, se não formos nós a dar sentido às nossas vidas, como seria? E quem o faria?
Também não há de se perder de vista as questões práticas do cotidiano com o rasgar das folhas do calendário. E os planejamentos feitos na ponta da caneta sobre o papel. Nisto, o pragmatismo não abre tantas possibilidades de pensamento. Contudo, há coisas que fogem a qualquer plano, apesar de tentarmos.
Ainda esta semana, por exemplo, conversava com um amigo e companheiro de atividades artísticas. Além de tratarmos sobre uma nova parceria, falamos a respeito de muitas outras coisas. Questionamentos e motivações que levam a humanidade e a arte ao movimento. Às viradas.
Dentre os assuntos, a dualidade entre aquilo que se tem (ou que se pensa que se tem) certeza e o que escapa (ou que se pensa que escapa) do nosso controle. Um conflito que nos polariza. Não obstante, qual o momento para arriscar as visões estabelecidas de mundo, até mesmo o próprio conforto, para ver, ouvir e receber o que não está claro, mas parece necessário? E romper com aquele incômodo tão naturalizado que nem parece mais aborrecer, devido ao costume">
Ou, trocando alhos por bugalhos, quando assumir aqueles desafios que fazem com que as pessoas se transformem, saiam da zona de segurança e criem novos sentidos, até então desconhecidos, mas urgentes?
Hoje, parece que tem muito mais gente com respostas do que perguntas. Será que as certezas e as ortodoxias, ou o que se pensa que se sabe, não são o revés da humanidade? Ainda mais agora?
Com a arte, não haveria de ser diferente. Tal como com as ciências de uma forma geral. Se não fossem os pioneiros e as pioneiras, muito ao que se tem o talvez não existisse. Quem sabe, até se acreditaria que a Terra é plana. Ou que ela não gira em torno do sol. Mas ela se move, como disse Galileu Galilei (1564-1642). A Terra se move!
Acredito que um dos princípios para as datas novas, os dias novos e os anos novos são o movimento, a constante renovação. Ter a sensibilidade, sensorial e criticamente, de perceber o que emperra o desenvolvimento de uma sociedade. E do que pode e deve ser renovado.
Ler um autor novo, uma autora nova. Assistir a um novo filme, não apenas aqueles sobre os quais todo mundo fala. Assistir a um novo espetáculo de dança, de teatro. Arriscar-se numa performance. Ir à uma exposição, inclusive as das escolas primárias.
Não se engane, a arte dá sinais de quando as coisas não vão bem. Por isso, recorra à arte, para encontrar nela perguntas sobre 2019. Se foi um bom ano e se realmente não estamos precisando de uma nova virada de ampulheta.