Comércio alternativo, brechós fazem bem para o bolso e o meio ambiente 703b5q

Bibiana Pinheiro e Letícia Klusener

Comércio alternativo, brechós fazem bem para o bolso e o meio ambiente

Foto: Bibiana Pinheiro

Feiras ocorrem em pontos da cidade normalmente nas sextas e sábados.

Como diversas datas comemorativas, a Semana Mundial do Meio Ambiente também abre discussão para repensar atitudes humanas em relação ao mundo. E, em 1972, a Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU) designou o 5 de junho como o dia mundial, data que marca a Conferência de Estocolmo sobre o Meio Ambiente Humano. Notícias globais, como o caso das toneladas de roupas abandonadas no deserto do Atacama, lançam alerta na quantidade de peças produzidas em larga escala e também sobre o impacto disso no meio ambiente. Pensando nisso, o contato com os brechós, seja em peças, calçados, seja em utensílios para casa, é uma das escolhas para aqueles dispostos a consumirem peças únicas, mais baratas e contribuírem, ainda, com o pensamento do consumo consciente.

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Estes pontos, conhecidos pelas inúmeras araras e cabides com peças de segunda mão, hoje, parecem viver uma nova onda. O público os encontra em praças centrais e em diferentes bairros, em garagens e dentro de casa, em salões comunitários e até em lojas especializadas, por vezes, que trabalham com marcas de grife. Em Santa Maria, os empreendimentos estão semanalmente em locais estratégicos para chamar atenção do consumidor, principalmente daqueles que buscam se esquentar nessa época do ano e ainda pagando menos. Seja para quem vende, seja para quem compra, é uma possibilidade de contribuir com o meio ambiente, como é o caso da aposentada Jocelia Teixeira Schimitt, de 65 anos, que aproveitou uma ida ao comércio central do município, na manhã de sexta-feira (6), para visitar a feira do Coletivo Vibe Circular, na Rua Venâncio Aires, no local conhecido como Praça da Oi.

– Estou vendo os casacos, principalmente pelo preço melhor. São bem íveis. Já achei bastante coisa legal. E o melhor é que reutilizamos. A natureza agradece muito e são roupas boas também.

Jocelia aproveitou a ia ao comércio para visitar a feira. Foto: Bibiana Pinheiro

Além de ser vantajoso para o bolso, os brechós são oportunidade de trabalho. Juntando os dois coletivos de brechós do município que a reportagem do Diário – o já citado Vibe Circular, e o Pura Traça, são pelo menos 35 pontos que vendem semanalmente pela cidade. A responsável, atualmente, pelo Coletivo Pura Traça, a empreendedora Vane Genesi Osório, 59 anos, conta que muitas mulheres encontraram no espaço uma fonte de renda. Inclusive, foi esse movimento feito por Vane quando decidiu sair da loja da qual era sócia:

– Eu decidi sair da boutique que trabalhava e abri meu próprio brechó. Me sinto bem fazendo o que faço, trabalhando com as peças que trabalho. Sei que o coletivo é esse espaço para outras pessoas também, que precisam fazer feiras para o sustento e acharam nesse meio uma forma de ter sua renda – explica ela.

Utilizar peças de segunda mão, como são chamadas aquelas já usadas e sem suas garantias de lojas, pode ser visto com certo preconceito por algumas pessoas:

– Acredito que, ainda, sim, existe um preconceito. Dizem que é roupa de morto, roupa usada, torcem o nariz. Falam de energia ruim entre outras coisas. A energia está na cabeça das pessoas. Mas também quem diz que energia de morto é ruim, né?! – brinca Vane.

Daqueles que fazem parte do coletivo, a empreendedora explica que há pessoas que trabalham com peças ganhas ou compradas:

– Eu sempre fui a lugares que vendem as peças em lotes, sempre garimpei. Hoje, as pessoas vêm até mim e tenho fornecedores fixos já.

Vane fez o movimento de sair de uma loja tradicional para iniciar no meio dos brechós e hoje tem o Brechório. Foto: Letícia Klusener

Sobre o processo de garimpar e organizar os produtos, Vane diz que a curadoria é seguida à risca, desde o processo de escolha da peça até a disponibilização para os clientes:

– A nossa curadoria é muito bem-feita. Quando as peças chegam até aqui, eu analiso elas, cada uma delas. As peças são lavadas, costuradas, adas, tiramos as ‘bolinhas’e colocamos cheirinho. Caso a roupa apresente alguma outra imperfeição que não percebi antes, aviso o cliente no momento que está olhando a peça.

Sobre a procura por esse comércio alternativo, a responsável pelo Brechório conta que os clientes levam em conta o consumo consciente:

– É vantajoso para o cliente, pois são peças únicas. Há peças vintages, com CGC (Cadastro Geral de Contribuintes), peças que tem duração imensa, que foram muito usadas e estão com uma boa qualidade. Outra questão é o consumo consciente, acredito que hoje é um dos principais motivos. Quando você consome em brechó, você colabora para esse consumo de forma mais consciente da moda – diz Vane

Comportamento da indústria e dos consumidores

A docente do curso de Design de Moda da Universidade Franciscana (UFN) e embaixadora global da Fashion Revolution, Caroline Manucelo Colpo, destaca o problema da indústria dos vestuários. Além disso, reforça a importância da reflexão sobre o consumo:

– É doido pensar que, quando ‘descartamos’ uma roupa, ela vai sumir do meio ambiente. Na verdade, peças com poliéster, por exemplo, vão virar entulho e demorar 400 anos para se decompor. Então precisamos pensar nessa moda circular, e a alternativa é maravilhosa.

Segundo relatório da ThredUp, a expectativa é de que o mercado global de vestimentas de segunda mão fature 367 bilhões de dólares até 2029. O levantamento aponta, ainda, um crescimento de 2,7 vezes mais rápido do que o mercado de vestuários global em um geral. Mesmo sendo uma alternativa que pode reduzir o impacto ao meio ambiente, a docente aponta a mudança no comportamento dos indivíduos, mas, sobretudo, da grande indústria:

– Infelizmente, também percebemos que os brechós se tornaram modismos. Precisamos entender, entre os consumidores, o objetivo de consumir roupas de segunda mão, e não gerar mais consumismo, para tentarmos ser um pouco menos nocivo com as nossas ações de consumo.

A professora Caroline destaca o comportamento da indústria e as relações de consumo da sociedade. Foto: Letícia Klusener

Ao encontro a essa ideia, a família do funcionário público Rogerio da Silva Viana, 62 anos, vai frequentemente em brechós, especialmente, o do Lar das Vovozinhas. Nesta sexta (6), ele buscou outro ponto a procura de novas peças.

– É mais em conta procurar nos brechós, e a gente já reaproveita. Já vi muitas roupas sendo descartadas e que poderiam ser reutilizadas. Na situação que está o meio ambiente, tudo que pudermos reaproveitar e reutilizar é muito importante para deixar para os nossos filhos e netos.

Rogerio também estava a procura de novas peças na sexta. Foto: Bibiana Pinheiro

Impacto econômico com peças de inverno

  • Usuários – relatam que a economia pode chegar a mais de 50%. Peças de R$ 100, podem ser encontradas por R$ 35, por exemplo.
  • Empreendedoras – cada feira movimenta, em média, R$ 200 por brechó. Seriam R$ 7 mil circulando no município só entre os dois coletivos, com 35 brechós.
Foto: Bibiana Pinheiro

Coletivo Pura Traça

  • Começou em janeiro de 2022
  • Crescimento – ou de 10 para 22 brechós
  • Ponto fixo – Praça Saturnino de Brito, conhecida como Praça do Brahma, nas sextas-feira e sábados, das 9h às 18h

Coletivo Vibe Circular

  • Começou em dezembro de 2024
  • Colaboradores – 13 brechós fixos
  • Ponto fixo – Praça da Oi, Rua Venâncio Aires, ao lado da agência dos correios, sextas-feira e sábados, das 9h às 18h

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